Os dados atualizados do Painel de Informações do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram o saldo de 642.892 postos formais de trabalho para as mulheres no Brasil em todo o ano de 2023. Trata-se de uma queda de 32% em relação a 2022 para o caso das colaboradoras brasileiras.
O monitoramento compila as estatísticas de admissões e desligamentos sob o regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Contudo, o levantamento não inclui as movimentações ligadas ao empreendedorismo feminino, que se destaca no cenário econômico nacional nos últimos anos.
De acordo com a pesquisa Empreendedorismo Feminino 2022, realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), a quantidade de mulheres donas de negócios no Brasil chegou a 10,3 milhões, um aumento de 30% de 2021 para 2022 e um recorde desde que o acompanhamento começou a ser feito, em 2016.
O levantamento do Sebrae aponta que as empreendedoras atuam majoritariamente no setor de serviços e representam 34,4% do universo total de proprietários de empreendimentos no país. Os estados com maior proporção de mulheres à frente de empresas são Rio de Janeiro (38%), Ceará (38%), São Paulo (37%) e Goiás (36%).
Segundo o GEM 2020 (Global Entrepreneurship Monitor – principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo), as brasileiras englobam 46% dos empreendedores iniciais no território nacional, das quais 40% pensam em abrir de uma a cinco vagas de emprego.
Presença feminina nas empresas
A participação crescente das mulheres no mercado de trabalho demonstra a importância das iniciativas concretas para ampliar a presença desse grupo nas empresas do país (seja por meio do empreendedorismo ou do emprego formalizado). Em um mercado que mescla tecnologia e contabilidade, áreas historicamente com predominância masculina, a Agilize, a primeira contabilidade online do Brasil apresenta números de destaque para as mulheres, com 68% das colaboradoras e 51% das líderes.
De acordo com Erica Damasceno, product owner na Agilize, independentemente do gênero, são essenciais muito conhecimento técnico, dedicação e experiência prática para se manter na área de tecnologia.
“Para as mulheres, é necessário não se deixar desanimar por ser minoria, ter segurança psicológica, não se intimidar em situações de tomada de decisão, ser aguerrida na defesa de opiniões e motivar outras colaboradoras”, afirma a profissional de 38 anos, que atua com tecnologia há dois anos, na gestão de produtos, depois de um processo de migração de carreira.
Como vantagens da maior participação feminina no ambiente de tecnologia do Brasil, Erica Damasceno ressalta a capacidade de a mulher ser multitarefa, as novas formas de enxergar e propor soluções para diversos problemas, o estímulo ao ambiente mais colaborativo, a empatia, a resiliência, a criatividade e a possibilidade de fortalecer a diversidade.
Clara Fonseca, líder do time Societário na Agilize, trabalha há seis anos no setor, tem 26 anos e é especialista em legalização de companhias. Ela reforça a visão de mudança no perfil de colaboradores e das lideranças das empresas nos últimos anos.
“O mercado contábil, em um passado não muito distante, era dominado pelos homens. Nós representávamos menos de 10% dessa força de trabalho. No entanto, afirmo com convicção que o cenário hoje é totalmente diferente, e isso é excelente!”, pontua. “Hoje, quase 50% dos profissionais contábeis são mulheres, uma realidade que nem requer pesquisa para ser percebida”, completa.
Desafios antigos
A igualdade salarial entre mulheres e homens representa um dos desafios recorrentes para as companhias no Brasil e no mundo, uma luta que mobiliza diversos segmentos da sociedade.
Segundo o relatório People at Work 2023: A Global Workforce View, do ADP Research Institute, um estudo realizado com mais de 30 mil entrevistados em 17 países, as promoções salariais na média mundial em 2022 foram de 6,7% para os homens, em comparação com 6% para as mulheres.
Além disso, um levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), divulgado em março de 2023, aponta que o rendimento médio mensal das mulheres era 21% menor do que o salário dos homens – R$ 3.305 contra R$ 2.909 –, com dados baseados na PnadC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua), conduzida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2022.
No intuito de modificar essa realidade, a Lei 14.611/23 foi sancionada há menos de um ano. Ela garante a igualdade de salário entre mulheres e homens no exercício da mesma função ou por trabalho de igual valor. De autoria da Presidência da República, a medida alterou a CLT para definir a obrigatoriedade da equiparação remuneratória. Para isso, foram elaborados mecanismos de transparência a serem seguidos pelas empresas, a aplicação de sanções administrativas e o rigor maior nos atos fiscalizatórios.
E as peculiaridades de ser uma profissional mulher vão muito além de aspectos salariais.
Erica Damasceno, product owner na Agilize, lista alguns dos desafios das mulheres no mercado, em geral. “Destaco a pouca representatividade feminina nas empresas, sobretudo em cargos de liderança e nas comunidades de tecnologia. Ressalto também as diferenças salariais entre homens e mulheres e a dificuldade de conciliar carreira e maternidade”, acrescenta.
Pontos positivos
Apesar das dificuldades impostas às mulheres no ambiente de negócios, os pontos positivos da força de trabalho feminina na economia funcionam como incentivo para que empreendedoras e colaboradoras se destaquem nas corporações.
“Antes de ser líder, sou mulher. Tenho um orgulho imenso de trabalhar em uma empresa onde as mulheres são respeitadas acima de tudo. Não somos tratadas como um peso para a organização”, ressalta Clara Fonseca. “Apesar de não ser mãe ainda, me sinto feliz em ver como o empreendimento lida com as mulheres que são mães e fico feliz em ver a empatia que há quando precisam se ausentar para cuidar dos filhos”, diz a líder do time Societário na Agilize.